Em todos os dias que passam, Simão do Vale Africano morre, dorme e sonha. Acorda tarde e mal-disposto, talvez porque tenha crescido numa casa de loucos — dito pelo próprio!—, onde se nutriu de humor e beleza, armas inevitáveis contra a tragédia e formas de olhar o mundo.
Habitou o teatro desde muito cedo, mas aquela que parece ser uma incursão recente na fotografia resulta de uma antiga reflexão sobre a captura do tempo ou a materialização visual do nosso processo de percepção.
Com Shakespeare a puxar de uma lado e Jean-Baptiste Mondino a empurrar do outro, encenar e fotografar intersectam-se num certo modo de compor um quadro (tableau), de criar um ambiente, mas também de existir. Num espaço onde luz e cor são moduladas, eminentemente narrativo sem ser diegético e cuja apresentação requer uma qualquer e imprescindível distância, o convite que nos faz é à não interactividade e, sim, à contemplação.
De resto, há alguns anos escreveu-se neste presente, pois é para si certo que a liberdade vem da imaginação. Do impulso imanente da imaginação viva aliada à escrupulosa concretização de domínio consciente, técnicas indispensáveis à escrita de si.